Quarta, 19 de maio de 2010, 09h24
Professora: Faculdade tentou tirar beijo lésbico de cartaz
Ana Cláudia Barros
Indignação. Foi este o sentimento da professora Viviane Souza Pereira, 33 anos, ao ser informada de que o cartaz usado para divulgar a 7ª Semana Acadêmica do Serviço Social, promovida pela FAMINAS, em Muriaé, na Zona da Mata mineira, havia sido vetado pela instituição educacional. A peça, reprodução da capa da agenda de 2010 do conselho federal da categoria, apresentava, entre outras figuras excluídas da sociedade, um casal de mulheres em uma insinuação de beijo.
Então coordenadora do curso de serviço social e organizadora do evento, Viviane afirma ter tentado negociar com a faculdade, que, segundo ela, ofereceu outras opções de cartazes, todas sem a imagem do casal homossexual. Como protesto, a professora optou pelo cancelamento do encontro e, no dia seguinte após tornar pública a decisão, foi demitida sem justa causa, conforme contou em entrevista a Terra Magazine .
- A instituição não quis associar a imagem do cartaz à imagem da empresa. Eles falaram que eu podia fazer o debate da forma que eu quisesse, sobre o que eu quisesse, mas dentro da instituição, porque a imagem dela não poderia ser associada à figura - revelou.
Vivane, que ocupava o cargo de coordenadora há quase dois anos, explica um dos motivos pelo qual não cedeu à pressão da faculdade. "Fui militante do movimento estudantil e tenho muita visibilidade nos movimentos sociais. Se eu tivesse me omitido, não conseguiria me olhar no espelho".
Viviane Souza Pereira - Eu tinha decidido utilizar a imagem da agenda do Conselho Federal de Serviço Social de 2010. Nessa imagem tem vários segmentos excluídos da sociedade, dentre eles, um casal de homossexuais, e a instituição não autorizou a utilização da imagem.
A instituição não quis associar a imagem do cartaz à imagem da empresa. Eles falaram que eu poderia fazer o debate da forma que eu quisesse, sobre o que eu quisesse, mas apenas dentro da instituição, porque a imagem dela não poderia ser associada à figura.
A reboque, não quis associar a imagem da empresa à homossexualidade. ..
Não quis associar a imagem aos segmentos excluídos, entre eles, os homossexuais.
Iniciamos um processo de negociação, que durou 20 intermináveis dias. Durante esse tempo, a instituição me mandou uma sequência de cartazes, em que todos os sujeitos que estavam na figura apareciam, menos as duas homossexuais. Então, eles fizeram outros cartazes, mas em todos eles, omitiram a imagem.
Toda minha conversa foi pautada no código de ética profissional do Serviço Social, no projeto ético e político que temos, em uma resolução que o Conselho Federal lançou, em 2008, acerca da defesa do diretos da diversidade, dos direitos humanos, contra a homofobia. E o processo de formação profissional dos alunos. O curso tem como base a defesa dos direitos sociais, humanos. Se recuasse, estaria sujeita a ter meu diploma cassado pelo próprio conselho, porque não é só um direito meu defender os princípios do código de ética, como é um dever denunciar qualquer situação que afronte esses princípios.
Fiquei indignada. Isso aconteceu em pleno século XXI. Acho absurdo esse tipo de atitude, principalmente dentro de uma instituição educacional, que se propõe a formar profissionais críticos e éticos. Para mim, é uma coisa completamente medieval.
Eu coloquei para instituição que se o cartaz não fosse publicado na sua íntegra, eu iria cancelar o envento, informar aos palestrantes e aos alunos o motivo. Foi o que eu fiz. No dia seguinte a eu tornar público o que estava acontecendo, coincidentemente, fui demitida sem justa causa. Só me pediram que eu passasse para pegar o aviso prévio e tchau. Recebi a notícia da mesma forma, com indignação. Mas quando optei por cancelar o evento, imaginei que isso poderia acontecer, que eu poderia sofrer algum tipo de sanção.
Vou comunicar oficialmente ao Conselho Regional de Serviço Social, para que o conselho tome as providências que achar de direito. Principalmente, em relação ao processo de formação profissional oferecido pela instituição. Todo o projeto pedagógico do curso de serviço social é pautado no nosso código de ética profissional, que tem como um dos princípios básicos a questão da defesa intransigente dos direitos humanos e sociais e a luta contra qualquer tipo de preconceito. A partir do momento em que essa questão é desrespeitada, isso coloca em xeque o próprio processo pedagógico do curso. Fui militante do movimento estudantil e tenho muita visibilidade nos movimentos sociais. Se eu tivesse me omitido, não conseguiria me olhar no espelho.
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